O desempenho das funções a partir de casa, existem condições para sobrecargas?

A transição para modelos de trabalho remoto, coloca desde logo questões relacionadas com as infraestruturas e em que medida existe capacidade real para suportar volumes massificados de cidadãos em trabalho virtual. O contexto atual do COVID-19 está a levar a mudanças rápidas na quantidade de profissionais em cada dia em ambientes remotos, e desta forma, a permitir uma rápida aprendizagem, mas também uma oportunidade para testar e avaliar a capacidade para operar online.  A tecnologia já viabiliza o trabalho remoto para muitos setores, o que permite o isolamento durante o período de contenção do coronavírus, mas será que a banda larga suportará a procura que é suscitada quando temos a maioria da população em casa?

A preocupação geral ocorre com a possibilidade de que as conexões residenciais de banda larga, projetadas para lidar apenas com os picos noturnos de tráfego, possam não ser capazes de enfrentar a sobrecarga gerada por longos dias com usuários a utilizar todas as possibilidades oferecidas pela internet.

A União Europeia com receio de que os servidores não sustentem o aumento do número de usuários, pediu que a Netflix provedora global de filmes e séries de televisão via streaming reduzisse a qualidade dos seus vídeos para poupar banda de internet durante a pandemia do coronavírus. O YouTube também anunciou que reduzirá a qualidade do streaming no continente europeu para evitar uma pane geral de seus servidores.

Mesmo as maiores empresas de tecnologias admitiram que estão enfrentando adversidades com a mudança nos padrões do tráfego. Mark Zuckerberg, presidente executivo do facebook, declarou em uma entrevista que a companhia estava enfrentando “sobrecargas” no uso de certos serviços, entre os quais um aumento de 100% no número de ligações realizadas por meio dos apps WhatApp e Mensseger.

Scott Petty, vice-presidente de tecnologia da Vodafone, que controla uma rede de telefonia móvel e uma rede de telefonia fixa usadas por empresas no Reino Unido, alegou que o “horário de pico”, tem termos de uso, agora se estende do meio dia às 21 horas.

Se tratando do acesso a soluções de mobilidade o cenário em Portugal parece ser ainda mais delicado. O estudo Portugueses: digitais mais pouco? de 2019 da empresa Ernest & Young mostrou que, mesmo em condições normais, cerca de 25% dos portugueses ainda tem queixas quanto à cobertura da rede de telemóvel ou a velocidade de acesso à internet. Esta perceção dificulta a experiência dos utilizadores e limita o potencial de mercado para negócios digitais. A capacidade de acesso à internet em situações de mobilidade é um dos pilares da revolução digital. No entanto, para mais de 40% dos portugueses o custo envolvido no acesso a dados ainda é percecionado como um potencial obstáculo.

Gráfico 1 – Acesso a soluções de mobilidade sobre a visão dos portugueses

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Fonte: Portugueses: digitais mais pouco? – Ernest & Young 2019

Há quem acredite que estamos preparados para enfrentar essa sobrecarga na procura do uso da internet. John Grahan, vice-presidente de tecnologia da Cloudfare empresa americana que oferece infraestrutura para web, disse que embora os padrões de acesso à internet estejam mudando, ainda não surgiu uma desaceleração mundial na velocidade de acesso. “Parece que existe capacidade suficiente. Nada indica que isso vá causar problemas”.

A empresa americana Akamai, maior provedora de entrega de conteúdo online, computação em nuvem e segurança digital, reportou um aumento de 50% no tráfego de internet global em relação à média para um dia comum. Mas ainda, assim, a empresa não se diz preocupada com o aumento da demanda.