O capital humano como alavanca para a transformação digital e os seus impactos

Ao falar de digitalização de processos, o primeiro pensamento que vem à mente da liderança é o aumento da produtividade e a aceleração das operações como consequência da implementação de soluções tecnológicas. 

Para os colaboradores, a digitalização pode até ser entendida como uma ameaça, uma vez que eles podem sentir que a adoção de soluções tecnológicas pode substitui-los, de forma mais eficiente, em algumas funções, nomeadamente nas que eram parte das suas rotinas. Mas, não é uma consequência tão obvia quanto possa parecer e o capital humano apresenta-se como uma peça fundamental para a adoção e sustentabilidade de todo o processo da transformação digital.

A digitalização representa mais do que uma mudança tecnológica pela qual as empresas estão a passar, representa igualmente uma mudança na forma como utilizam dados e informações, e também mudança de processos. Assim, a forma como as pessoas se organizam e agem, no mercado de trabalho e dentro de cada empresa, e as mudanças associadas é essencial à avaliação dos efeitos da digitalização. Trata-se de uma verdadeira revolução no mindset dos profissionais e uma necessária adaptação para enfrentar cenários corporativos até agora inimagináveis. A preparação do capital humano para estas mudanças e para o seu novo papel no mercado trabalho e no conjunto que são as organizações está intimamente relacionada com a sua capacitação/requalificação e desenvolvimento de competências específicas.

O debate em torno do investimento em capital humano e do desenvolvimento de competências para a digitalização caracteriza-se pela atenção dada à velocidade da mudança e inovação, à convergência tecnológica e à co - responsabilização de atores públicos e privados na criação e /ou captação do talento necessário que concorra para enfrentar os desafios do mundo digital e que permita usufruir em pleno de todas as suas vantagens e minimize as suas desvantagens. É neste ponto crucial que reside o contributo do Observatório do Emprego de Aveiro.

O Observatório do Emprego de Aveiro, além de recolher e analisar informações sobre as necessidades de competências e necessidades de qualificação/formação na região de Aveiro, também dá apoio à elaboração das formações necessárias como resultado daquela recolha. Para além disso, e não menos importante, desenvolve conhecimento sobre o mercado de trabalho regional e os impactos que a transformação digital tem na região.

Segundo as empresas da região já auscultadas pelo Observatório do Emprego através de workshops, entrevistas e questionários, as competências digitais são apontadas como necessárias em todas as áreas/departamentos e funções da empresa, por isso são identificadas como transversais às empresas. Sobre as competências emergentes no mercado de trabalho com a transformação digital, as empresas da região apontaram que as competências transversais (ou soft skills, que dizem respeito a aptidões mentais, emocionais ou sociais que não são normalmente associadas diretamente a áreas técnicas, mas que são efetivamente necessárias para a implementação e transformação digital) são tão, ou mais importantes, que as competências técnicas (ou hard skills, i.e., diretamente associadas à operacionalização das tecnologias). Segundo a opinião da maior parte dos representantes das empresas auscultados, a formação em competências técnicas oferecida na região de Aveiro é de grande qualidade (Universidade e escolas profissionais), sendo que apontam a formação em competências transversais, mais incipiente e com necessidade de, impreterivelmente, ser reforçada pois são apontadas como críticas para o desempenho dos profissionais nas estratégias de transformação digital.

O investimento na formação para competências técnicas e transversais para a digitalização é apontado como crescente, e de forma muito significativa, segunda as empresas auscultadas. Uma vez que a capacitação em competências digitais é uma necessidade transversal a todas as áreas/departamentos e funções, o desenvolvimento de planos de formação deverá ser também transversal e por isso dirigido a todos os perfis de colaboradores.