Profissionais portugueses de TI e o cenário COVID

A falta de profissionais qualificados nas áreas tecnológicas foi amplificada com a pandemia do Covid- 19, nomeadamente por ter imposto, a nível global, uma rápida adaptação a modelos de teletrabalho, ao e-learning e à utilização de variados serviços online. Como consequência, e como forma de dar continuidade às suas operações, muitas empresas aceleraram os seus projetos de digitalização de processos internos e de serviços.

Assim, a nova realidade trazida com a pandemia gerou dois cenários distintos, no que se refere às necessidades de recrutamento pelas empresas portuguesas: se, por um lado, houve um aumento da necessidade de profissionais das áreas de tecnologia, do e-commerce, da saúde e da logística; por outro lado, houve uma drástica redução nos setores da restauração, da hotelaria e do turismo. Com isso, para além de gerar um aumento de profissionais disponíveis no mercado, novas necessidades foram criadas num tecido empresarial ainda frágil no que se refere à transformação digital, automação de processos ou cibersegurança. Os setores mais tradicionais, como o farmacêutico, passaram também a investir em profissionais com competências tecnológicas como o business inteligence, data science ou machine learning, e com competências transversais como o dinamismo, a facilidade de identificação e a resolução de problemas e o trabalho de equipa. Mesmo antes da pandemia, na União Europeia, já se apontava para a previsão de uma escassez entre 800 mil e um milhão, em 2020, de profissionais de Tecnologias de Informação (TI).

Segundo as empresas de recrutamento em Portugal, as organizações continuaram a contratar, mas, só o fazem para suprir as funções estritamente necessárias, e têm como foco a retenção de talentos. E para isso precisarão oferecer aumentos salariais e políticas de benefícios, podendo resultar em aumentos médios entre 1 e 5%, no período da pandemia. Num estudo conduzido pela empresa Randstad, Portugal encontra-se no topo da lista de países que consideram que a estabilidade laboral foi prejudicada com a pandemia, o que pode levar as empresas a serem mais competitivas nas suas propostas, para atrair e manter os profissionais altamente qualificados. Entretanto, apesar da competição com grandes marcas, a pandemia fez com que mais profissionais optassem por organizações mais pequenas, de nicho, onde a remuneração não é somente financeira, mas também possui o lado emocional e o lado do desenvolvimento profissional. Os recrutadores também apontam que os profissionais portugueses são muito conceituados no mercado internacional pelo seu excelente nível de formação. E com o teletrabalho, as possibilidades de recrutamento tornaram-se mais globais.

Nesse contexto, o cenário pós-pandemia irá exigir ajustes nos modelos de negócios o que poderá ser visto como uma oportunidade para que as empresas portuguesas também possam contratar profissionais fora do país, além de trazer investimentos de empresas internacionais que, em consequência pode ajudar a atrair talento. Entretanto, o diferencial será a capacidade de aumentar o número de profissionais e o ritmo de formação e de requalificação, a fim de possibilitar um acesso mais fácil ao mercado de trabalho.

O Observatório do Emprego procura de forma continuada, conhecer as implicações da transformação digital no contexto do Trabalho e apoiar a identificação de domínios prioritários e proporcionar informação de programas para a qualificação em competências STEAM do tecido económico de Aveiro.

 

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Peralta, H. (2021). Falta de profissionais nas TI faz disparar salários em Portugal .

Pereira, S. (2021). Empresas desesperam por trabalhadores qualificados